terça-feira, 28 de outubro de 2008

*Keller

«Sprechen Sie English? Repetido até que me indiquem o caminho.
Contórno a esquina ao encontro de uma porta sem porteiro. Além porta, um buraco que emana veludo vermelho, e vindo do seu âmago, o som de um piano sem pianista e um saxofone sem dedos que o toquem… Desci.
Há uma cota a pagar para esta red-velvet-keller.
Escarlate para vermelho.
As paredes, quase cortinas de um David Linch jazzístico.
Recebida por uma música português-brasil-com-resquicios-de-alemão. - Vinho entornado na última peça de roupa branca não manchada que possuía. - O vinho era acompanhado de olhares insdiscretos. – “Uma conversa a dois”.
Borboletas saem-me da boca…
Não tardou a que a cave ficasse cheia de borboletas púrpura que esvoaçavam por todo o lado. Turvam a minha visão. Apenas o som da música passava pelas borboletas e acariciava todos os recônditos cantos...
À Saída mais uma música em português-brasil-com-resquicios-de-alemão…»

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

*Pontstraße

«O cheiro de Berlin pairava no ar. Pontstraße indicava o caminho para o sorriso fecundo que desta vez não deixaria fugir. O seu cabelo era-me familiar… olhamo-nos, sorrimos…
- Hallo, parle vous français?
- No I’m sorry… (mais sorrisos)
- I’m Marie, and You?»

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Púrpura

«O púrpura ainda me persegue. O púrpura tolda-me a mente.»

terça-feira, 21 de outubro de 2008

*Blush

«Blush decora-a. Mas fujo ao som de Bob Dylan impresso num livro-fetiche que folheio a olhar pelo canto do olho… Fujo do mais verdadeiro sorriso. Fujo e apenas ganho o vazio das possibilidades que não se concretizaram. Não lhes dei opotunidade para isso… sou louca.
Olhamo-nos três vezes. Em todas fui cega. Louca. Vazia. Em mim o perfeito estraga-se. Em mim tudo se corrói e perece. Em mim nada existe que não podridão. E ainda assim interrogo-me se tomei a decisão correcta? Nunca antes a tinha tomado. Porquê desta vez? Porquê acentuar este vazio?
A solidão não me responde.
Quis arder em chamas.»

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

La-Folie

«Hoje o Corvo sussurrou-me ao ouvido; “a noite está para ti, mas cuidado, a pirâmide invertida procura-te.”
Acordei, e mais um lugar a abandonar, mais um compartimento vazio… Restos da noite que são para abandonar… Roupa espalhada pelo chão, piriscas de cigarros e garrafas vazias, o eterno cliché de uma noite de la-folie. »

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Púrpura

«levantei-me e olhei pela janela. Hoje o dia seria púrpura. Vesti lycra a condizer com o pensamento e algo que me delineasse as mãos... Sentia-me púrpura, toda eu púrpura…»

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Laura Palmer

«Laura Palmer surge-me numa cave demasiado iluminada.
Marie A. - Do you have a light?
Laura P. - Yeah, yeah…
Dei-lhe o meu cigarro para acender enquanto puxo as meias para cima. A acompanhante observa-me discretamente, longe do olhar de Laura. Ela devolve-me o cigarro já aceso. Agradeço-lhe três vezes antes de sair...»

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A memória.

«Já passaram três dias, semanas, meses? Não sei. Não me lembro. Tenho o dom do tempo não me reger a memória. Assim nada me é próximo ou distante. A minha noção do tempo não me permite estratificar factos da mesma forma que infecta os mortais. Verdade e sonho são um só. A separação do que se vive e sente não tem outro fim que não a corrosão…
As cicatrizes toldam o bafo das flores diagonais que apenas o mocho sabe colher. Mastiguem bem as flores, não se engasguem para uma morte lenta e inconsciente…»

Sussurram-me ao ouvido

«As deambulações pela cidade. Os encontros com os desconhecidos. As lutas de gigantes a cada noite. Os toques de olhares da mais ínfima profundidade. Os estrangeiros que me seguem com o olhar sussurram… Qualquer um incapaz de fugir das minhas teias que se arrastam no ar como o perfume da Primavera. Mesmo os cegos que pela cidade tacteiam sentem a minha presença. São demasiados os rostos adornados com a mesma música de sempre.
“People are strange when you are a stranger, faces look ugly when you are alone…”
O Jim M. amar-me-ia…»